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Ao som de Julie Andrews entoando “Whitsling Away the Dark” (literalmente, “Assobiando até o Escuro ir Embora”), a câmera de Sam Esmail e do diretor de fotografia Tod Campbell passeia pelos gigantescos túneis da controversa planta de energia da Evil Corp que deu início a toda a trama de Mr. Robot. Aos poucos, os túneis se tornam o interior dos olhos de Elliot (Rami Malek), nosso intrépido “herói” desde a primeira temporada.

 

Em uma genial composição cinematográfica, Mr. Robot restabelece com firmeza as motivações iniciais de seu protagonista (literalmente, o que se esconde em sua mente, atrás dos olhos), nos introduz a uma noção misteriosa de que todas as “tragédias” da Evil Corp podem ser consertadas (será mesmo que a série vai por esse caminho de ficção científica?), e nos cumprimenta, a plateia que se localiza além da quarta parede quebrada, não com o familiar “Olá, amigo” de Elliot, mas com uma saudação muito mais alarmante: “Você ainda está aí?”.

 

O mundo em que Esmail e companhia nos jogam nesse retorno de Mr. Robot está mergulhado em escuridão. Campbell se delicia em sombras e cores ainda mais mudas que o normal, brincando com o amarelo da luz de velas e a silhueta dos cabelos desgrenhados de Darlene (Carly Chaikin) quando Elliot vai vê-la em seu apartamento. De lá, eles vão a uma festa de hackers em que Elliot toma posse de um computador e fecha o “ponto de acesso” que permitiria o famigerado plano da Fase 2 de ser completado, aquele que explodiria o prédio de recuperação da Evil Corp.

 

O desespero do nosso protagonista para dar fim ao plano que ele mesmo (comoMr. Robot) bolou é tanto que ele deságua em um desabafo épico, meio falado em voz alta pelas ruas e para a câmera, meio narrado em off apenas para o espectador. Malek mastiga e saboreia cada palavra que diz na narração, mas cospe em repúdio cada uma que desfere diretamente para a câmera, causando um contraste desorientador que serve bem a um monólogo tão fundamental para o próprio cerne da série ambígua de Sam Esmail.

 

Em seu exaspero com o mundo que ele mesmo criou, ao qual suas próprias ideias de revolução deram luz, Elliot é um símbolo muito mais do que um personagem, e é impossível não sentir a “cutucada na ferida” quando ele finalmente admite que culpar corporações, sistemas, políticos e adversários não é o bastante. A culpa do mundo em que vivemos, em uma cruel cadeia de ação e reação, também é nossa – a posição ambivalente de Mr. Robot em relação ao próprio conceito de uma revolução anarquista sempre foi a sua maior virtude, e o senso de responsabilidade que Esmail introduz aqui é ainda mais provocante.

 

Os dois pilares que sustentam “eps3.0_power-saver-mode.h” (3×01), no entanto, são Angela e Darlene. Em performances profundamente meditadas e reveladoras, Carly Chaikin e Portia Doubleday revelam o intenso propósito que dá impulso a suas personagens e motiva suas dissimulações. O pânico de Darlene e a esperança de Angela são palpáveis, quase cortantes no ar junto a trilha sonora de Mac Quayle, que serpenteia ao redor das cenas com a habilidade, adrenalina e tensão de sempre.

 

Elliot vai parar de volta no apartamento de Angela no final do episódio, e é quando ele dorme que descobrimos que a melhor amiga do hacker na verdade está agindo em parceria com Whiterouse (B.D. Wong), Mr. Robot (Christian Slater), Tyrell (Martin Wallström) e o misterioso novo personagem Irving (Bobby Cannavale) para dar continuidade à Fase 2 mesmo sem a aquiescência de Elliot.

 

Na estreia de seu terceiro ano, Sam Esmail devolve o poder aos personagens de navegarem suas próprias vidas após uma temporada que (genialmente) os deixou à deriva no dilúvio que eles mesmos criaram. Ao final do episódio, Mr. Robot emerge da escuridão e revolução está de volta a todo vapor, é verdade – mas não se engane, nunca foi tão difícil torcer por ela.

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Fonte: Observatório do cinema


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